23.10.08

Felicidade em pequenas doses

Vivemos hoje de pequenas doses de felicidade, tenha a dimensão e o tamanho que tiver,pessoal ou social. Digo isto para resolver uma dúvida comigo a respeito do assunto postado anteriormente. Eu mesmo comecei a achá-lo bobo e alegrinho demais. Como ficamos com nossas felicidades individuais diante de tantas infelicidades sociais? Isto foi me trazendo questões e questionamentos diversos.
Exatamente neste ponto mora um dos mais perversos e eficientes resultados do chamado neo-liberalismo. Ao arrebentar com tabus, valores, hábitos, processos cognitivos estruturantes e fundantes para a aprendizagem, retira das coisas e dos acontecimentos sua subjetividade, diria a "umidade sentida" em coisas como descobrir, namorar, apaixonar-se, idéias, ideais. Vem sendo um processo esterilizante, por onde passa, seca, nada mais brota.  Hoje é feio e demodê manifestar sentimentos ( Talvez isto explique crescimento vertiginoso do movimento atitudinal de denúncia que são os "Emos"). A defesa ao direito de ter emoção. Se já, até um movimento surgiu, iniciado por jovens, quer dizer que a coisa tá feia. 
Porque esta conversa tem importância?
Porquê o coeficiente de felicidade pessoal e social, em movimento auto-alimentador, são elementos fundamentais para a capacidade de aprender, de enfrentar e resolver problemas. É o que nos constitui, nos distingue no reino animal. Se retirarmos isto, seremos apenas e tão somente bichos. Tudo o que somos constitui-se de um conjunto de regras éticas. Ética fundada na admissão da existência e no respeito ao outro. 
As consequências  se materializam em quase tudo que vemos. Qualquer telejornal é medidor disto. Quase a totalidade dos assuntos, sejam em que área for, pautam-se pelo desrespeito ao direito sagrado de vida do outro, ou mesmo pela banalização da mesma, pelo que é do outro e por aquilo que é de todos nós, que é público. 
Minerbo fala apropriadamente de a desnaturação da linguagem,esta vai perdendo a força do conteúdo significado, palavras que ao citá-la implicava  em comprometimento público de comportamento e conduta. Usa como exemplo a palavra estupro e ilustra com uma cena difusa em Laranja Mecanica onde tal ato praticado por um grupo de jovens não deixa saber se real ou encenação. Esta desnaturada linguagem  já forma as gerações sucessoras.
Recuperar sem falsas culpas os sentimentos, sim, mas somente fará sentido se sustentadas na ética de respeito a sacralidade da vida, do direito ao outro existir. Resignificar a linguagem, apropriá-la de autoridade pública, sancionadora. Pode parecer tolo e saudosista, mas precisamos de república.
Enfim não podemos sair por aí falando e nos comportando de forma prolixa, como se natural fosse "navegar" entre ético e não ético sem nenhuma consequência. 
Não podemos.

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